O nordeste é mitigado por seca, pobreza e miséria. O cinema sempre retrata essa realidade de vários modos.
Sou do interior do Nordeste e realmente existe está situação, porém não é apenas isso que temos aqui. Infelizmente existem os extremos.
Mas voltando a idéia do texto existem pessoas que focam o lado pobre do nordeste e denigrem essa imagem. Isso não acontece com Garapa (2009) de José Padilha (Tropa de Elite) que é mais uma denúncia do que uma forma de ganhar às custas da pobreza.
Conhecido por sua luta contra a fome no sertão nordestino, o médico e professor Josué de Castro assine a epígrafe do documentário Garapa. Diz o médico que no Brasil é possível morrer de fome de dois jeitos: não comer nada ou comer mal e sofrer aos poucos com carências nutricionais. Isso mostra exatamente os extremos do Brasil.
Porém as famílias de Fortaleza e do interior do Ceará, nos arredores de Choró, cujas rotinas Padilha documenta em seu filme, se encaixam no segundo caso. Muitas vezes, sua dieta se restringe à bebida do título, o melado fervido, já que um saco de açúcar é o que compensa comprar, segundo um entrevistado, depois de um dia de trabalho rural ocasional na região.
Sem rodeio, a câmera operada por Marcela Bourseau nos apresenta a esse drama a partir do ponto mais crítico: os corpos das crianças. Nus, magros mas barrigudos, andam de um lado para o outro e rolam no chão enquanto a equipe os filma, às vezes, dos pés à cabeça em um plano só, como se os medisse. Os pais visivelmente tentam ordenar a casa para "receber a visita" (e sentam os filhos no chão sobre camisetas para almoçar), mas não demora a vermos que a insalubridade é um dos fatores da miséria por ali.
Fatores não faltam, ademais. O alcoolismo, o descontrole de natalidade e o desemprego vão se amontoando entre dilemas que Padilha levanta seja pela imagem (ao contrapor dois homens de famílias diferentes em situação similar, um sóbrio e outro bêbado, por exemplo), seja pela palavra mesmo, questionando as mães sobre planos de maternidade. É problema demais para um filme só, e isso cria uma sensação de fatalismo cada vez maior, mas para falar da fome Garapa não tem mesmo como fugir desses fatores todos.
Se o teor temático é mais ou menos esperado, o que deve chamar mais atenção - e provocar discussões - em Garapa é a opção pela "estética Sebastião Salgado" de fotografar a pobreza em claro-escuro. Há momentos de evidente procura por uma poesia visual, como a chuva que cai sobre o varal de roupa construído com arame farpado, ou o achado que é uma menina loira de vestido todo branco contrastando com o pai desdentado que trança as pernas e "estraga" o enquadramento.
Dizem que para uma pessoa acordar para a realidade, ela têm-se que viver aquela verdade. Você assistindo Garapa vai se sentir naquela realidade. É chocante porém necessário.
Sou do interior do Nordeste e realmente existe está situação, porém não é apenas isso que temos aqui. Infelizmente existem os extremos.
Mas voltando a idéia do texto existem pessoas que focam o lado pobre do nordeste e denigrem essa imagem. Isso não acontece com Garapa (2009) de José Padilha (Tropa de Elite) que é mais uma denúncia do que uma forma de ganhar às custas da pobreza.
Conhecido por sua luta contra a fome no sertão nordestino, o médico e professor Josué de Castro assine a epígrafe do documentário Garapa. Diz o médico que no Brasil é possível morrer de fome de dois jeitos: não comer nada ou comer mal e sofrer aos poucos com carências nutricionais. Isso mostra exatamente os extremos do Brasil.
Porém as famílias de Fortaleza e do interior do Ceará, nos arredores de Choró, cujas rotinas Padilha documenta em seu filme, se encaixam no segundo caso. Muitas vezes, sua dieta se restringe à bebida do título, o melado fervido, já que um saco de açúcar é o que compensa comprar, segundo um entrevistado, depois de um dia de trabalho rural ocasional na região.
Sem rodeio, a câmera operada por Marcela Bourseau nos apresenta a esse drama a partir do ponto mais crítico: os corpos das crianças. Nus, magros mas barrigudos, andam de um lado para o outro e rolam no chão enquanto a equipe os filma, às vezes, dos pés à cabeça em um plano só, como se os medisse. Os pais visivelmente tentam ordenar a casa para "receber a visita" (e sentam os filhos no chão sobre camisetas para almoçar), mas não demora a vermos que a insalubridade é um dos fatores da miséria por ali.
Fatores não faltam, ademais. O alcoolismo, o descontrole de natalidade e o desemprego vão se amontoando entre dilemas que Padilha levanta seja pela imagem (ao contrapor dois homens de famílias diferentes em situação similar, um sóbrio e outro bêbado, por exemplo), seja pela palavra mesmo, questionando as mães sobre planos de maternidade. É problema demais para um filme só, e isso cria uma sensação de fatalismo cada vez maior, mas para falar da fome Garapa não tem mesmo como fugir desses fatores todos.
Se o teor temático é mais ou menos esperado, o que deve chamar mais atenção - e provocar discussões - em Garapa é a opção pela "estética Sebastião Salgado" de fotografar a pobreza em claro-escuro. Há momentos de evidente procura por uma poesia visual, como a chuva que cai sobre o varal de roupa construído com arame farpado, ou o achado que é uma menina loira de vestido todo branco contrastando com o pai desdentado que trança as pernas e "estraga" o enquadramento.
Dizem que para uma pessoa acordar para a realidade, ela têm-se que viver aquela verdade. Você assistindo Garapa vai se sentir naquela realidade. É chocante porém necessário.
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