27 maio 2009

O arquetipo do iconoclasta no cinema - Parte 3 - Tyler Durden - O alterego



“Você não é sua conta bancaria, nem as roupas que usa.
Você não é o conteúdo da sua carteira.
Você não é seu câncer de intestino.
Você não é seu café com leite.
Você não é o carro que dirige”

Tyler Durden

“Somente após uma desgraça conseguirá despertar
Somente depois de perder tudo, poderá fazer o que quiser
Nada é estático
Tudo é movimento
E tudo esta desmoronando
Esta é sua vida
e ela acaba um minuto por vez”

Tyler Durden

“Será que não vou me libertar de suas regras rígidas?
Será que não vou me libertar de sua arte inteligente?
Será que não vou me libertar dos pecados e do perfeccionismo?
Digo: evolua, mesmo se você desmoronar por dentro”

Tyler Durden

Essas são algumas frases do melhor personagem da historia do cinema eleito pela revista Empire. O personagem de Pitt em O Clube da Luta, Tyler Durden, é considerado "estiloso sem precisar fazer esforço, inegavelmente legal e perigosamente carismático", entre outras características. Segundo a publicação, o personagem encapsula a idéia de que "os homens querem ser como ele, e as mulheres querem ir para a cama com ele" melhor do que o agente secreto James Bond (que aparece na 11ª posição).

Os pensamentos de Tyler Durden estão mais presentes do que nunca, a crise financeira é a pior nos últimos anos. O american way of life esta desmoronando. Isso nos faz lembrar outra citação do filme:

"Isto não é um seminário. Nem um retiro de fim de semana.
De onde você esta, não pode imaginar como será o fundo.
Somente após uma desgraça conseguirá despertar
Somente depois de perder tudo poderá fazer o que quiser".

O presidente americano é negro, isto representa uma quebra de paradigma e uma vontade de mudança. São as pessoas manifestando a iconoclastia, os antigos moldes e tradições não servem mais, temos que reinventar ou mudar as coisas.
Tyler Durden tenta fazer isso no Clube da Luta, no filme não é mencionado o nome do personagem de Edward Norton, por isso vou denominá-lo de “o personagem”. E o motivo para isso é que “o personagem” representa todos nós, no sentido de sermos um subproduto do consumo, não somos reconhecidos pelos nossos nomes, mas sim pelo que temos. Como Tyler cita no filme:

“Os anúncios nos fazem para comprar carros e roupas, trabalhar em empregos que odiamos para comprar porcarias que não precisamos. Somos uma geração sem peso na história, cara. Sem propósito ou lugar.”

“O personagem” é fraco, trabalha num emprego que odeia, compra coisas que não precisa, não possui amor próprio, não tem personalidade, Não tem coragem pra se livrar dessas coisas todas, e de certa forma, nem percebe isso tudo em si mesmo, pois acredita na sociedade de consumo colocada na cara dele através de propaganda e marketing. É uma pessoa sozinha e angustiada. Tyler Durden é tudo o que ele não é.

Tyler é a projeção do animal interior de “o personagem”, algum tipo de guru da nova era com várias críticas a sociedade capitalista. O discurso de Tyler é deveras marxista, quando ele fala nessa passagem:

“Cara, eu vejo no clube da luta os homens mais fortes e inteligentes que já viveram. Eu vejo todo esse potencial, e o vejo desperdiçado. Que droga, uma geração inteira enchendo tanques de gasolina, servindo mesas ou escravos de colarinho branco.”

As idéias de Marx praguejavam que o homem é o seu trabalho. Se o homem não produz para si mesmo, e sim para um patrão que toma boa parte da sua produção, o homem não é plenamente homem (um homem completo).

Assim como “o personagem” existe uma força animal dentro e nós, que quer ser e viver como Tyler. É o nosso alterego que pulsa para sair da caverna.

O modo de vida que Tyler disseminava é inconcebível para os padrões capitalista da nossa sociedade, mas isso não quer dizer que não podemos começar a pensar que a vida é mais do que consumir. Afinal antes de Tyler Durden, Jesus Cristo já pregava o desapego às coisas materiais.

“O que você consome, acaba te consumindo”
Tyler Durden.

2 comentários:

  1. Legal essa perspectiva do personagem sem alguns trechos mais notorios e sesasionalistas que ele tem no filme, identificar o discurso de Marx e até mesmo o que filme quer passar é bacana, visto que pode-se se achar (1) um puta filme pipoca (2) um puta filme cabeçudo sem sentido (3) um puta fime os dois anteriores... o livro tem muitas coisas bacanas alem...

    ResponderExcluir
  2. Com certeza meu personagem e filme favorito.
    Ótimo autor, diretor, elenco e história.
    Acho que a mensagem passada por Tyler é algo que muita gente precisa ouvir e absorver hoje em dia.
    A insatisfação, frustração e doenças até mentais geradas pelo trabalho, que geralmente mal valoriza seus funcionários, e estes vivem para sobreviver, o que chega a ser na maioria das vezes a mesma coisa que consumir.
    Filme realmente uma obra.

    ResponderExcluir